Sua verdadeira idade

Os especialistas procuram as chaves biológicas do envelhecimento

Quatro golpes anti-idade
Por que a mulher vive mais
Calcule sua idade biológica
ALÉM DISSO, UM TESTE.Responde a perguntas simples e descubra a sua idade biológica
Nosso aspecto físico, especialmente na cultura latina, é um bem em cima. Mas o que há de ser jovem (mas jovem de verdade), “por dentro”? Atenção a esta premissa: o aspecto físico externo não é um indicador fiável do estado de saúde do interno. Quando vamos comprar um carro de segunda mão (e não vos ofendáis por analogias), sabemos que não devemos nos guiar apenas pela deslumbrante corpo: o carburador, mangueiras, a bateria… refletem a verdadeira idade do veículo. Pessoas de magnífico aspecto exterior cai fulminada depois de um ataque cardíaco ou sofrer de repente uma embolia cerebral incapacitante.
Desta ideia nasceu o conceito de “idade biológica”, que avança a um ritmo diferente do da “idade cronológica”, que começa a contar do momento em que nascemos. A idade biológica é a relativa ao estado funcional de nossos tecidos e órgãos, e, portanto, um conceito fisiológico. Vejamos para onde devemos olhar para encontrar a resposta à pergunta “quantos anos tem o nosso corpo?” Para começar, não tem por que ser igual para cada parte do nosso organismo. Cada órgão e tecido envelhece a seu ritmo. A razão por que há um envelhecimento não harmônico entre diferentes tecidos e órgãos é um enigma ainda por investigar.
É verdade que não os tratamos de forma igual a todos. Podemos comer muito mal, ou dormir pouco, ou exercitar um pouco a mente, ou fumar, etc. Diferentes atividades, costumes, usos e mau uso comum nas, o surgimento de um envelhecimento a diferente velocidade de acordo com o que tecidos. Podemos ter um coração jovem, mas cerca de rins idosos, ou um sistema imunitário debilitado e uma mente clara. Determinar com precisão a nossa idade biológica pode nos ajudar a entender e prevenir futuros problemas de saúde relacionados com doenças associadas ao envelhecimento, tais como as doenças cardiovasculares, a diabetes, a osteoporose e o câncer.
Então, qual seria o calendário em que consultar a nossa idade biológica? São muitos os parâmetros fisiológicos que foram propostos, mas um dos problemas de partida na busca de biomarcadores de envelhecimento é estabelecer um padrão de referência a uma determinada idade, que serve para comparar os dados obtidos de medições posteriores. A partir de que ponto entramos em uma condição de envelhecimento, ou não? Como saberemos se nosso biomarcador indica que passamos a barreira do estado saudável?
Talvez possamos preencher algum dos vários testes online que são oferecidos na internet como método infalível para o cálculo de nossa idade biológica, ou, visto de outra perspectiva, quantos anos de vida temos pela frente. Ou também podemos recorrer a uma das clínicas anti-envelhecimento que proliferam especializadas no tratamento anti-envelhecimento e que, como primeiro passo, nos submete a todo tipo de determinações de metabólitos no sangue e medição de níveis de hormônios.
As provas analíticas metabólicas a partir de amostras de sangue são as habituais, com as quais estamos familiarizados cada vez que o nosso médico solicita um exame de sangue para verificar, de maneira geral, qual é o nosso estado de saúde. São úteis para verificar como nos encontramos fisicamente, mas realmente não atendem a nenhum aspecto específico derivado do envelhecimento. Se é verdade que podemos estabelecer uma relação entre piores parâmetros analíticos durante a velhice, não é menos verdade que podemos encontrar idosos com níveis invejáveis de colesterol, açúcar, etc.
As medidas de níveis hormonais, por outra parte, estão muito na moda, pois é bem conhecido que os níveis de estrogênio, testosterona e de hormônio do crescimento diminuem claramente com a idade, especialmente quando vencemos a quarentena. Não obstante, sua relação com o processo de envelhecimento não é clara e representam um risco. A estela de países como Estados Unidos, nós podemos terminar assistindo ao triste espetáculo de terapias anti-envelhecimento à base de injeções hormonais em clínicas descontroladas, o que poderia acabar sendo uma Operação Porto, edição Terceira Idade. As clínicas mais esotéricas pode até decidir medir nossos campos e fluxos energéticos, provenientes de não-se-sabe-se que as energias. Em contraposição a essas práticas questionáveis, o que biomarcadores de envelhecimento propõe a ciência?
A juventude molecular
A investigação biomédica sobre as causas do envelhecimento é recente. Até há um par de décadas, tentar descobrir os mecanismos moleculares que ditam o envelhecimento era visto como algo inútil, não digamos já na pesquisa científica de métodos capazes de reverter o processo, que parecia uma quimera seudocientífica mais próxima da charlatanismo que a ciência séria de laboratório e experiências bem desenhados. No entanto, a descrição de alterações genéticas específicas e bem definidas, que permitem prolongar a vida de forma espetacular em organismos modelo levou a multidão de laboratórios do mundo a abraçar a busca da fonte da eterna juventude molecular.
Um dos maiores esforços dos pesquisadores tem sido tentar definir quais são as alterações a nível molecular que se correlacionam com o processo de envelhecimento, com o objetivo duplo de que possam estar envolvidos causalmente no processo e com o que sirvam de biomarcadores de envelhecimento. Em um mundo ideal, poderíamos chegar a conhecer quais são as alterações na expressão de nossos genes que acontecem ao nos tornarmos mais velhos, e que isso nos permitisse projetar biochips de envelhecimento. No entanto, essas pesquisas são resultado até o momento sem sucesso, e tropeçam com o problema adicional de não fornecer informação sobre a razão de as alterações que possam ser observados.
Outra abordagem é o de atender às teorias sobre as causas do envelhecimento e tentar encontrar os principais suspeitos, na cena do crime e com as mãos na massa. Assim, por exemplo, muitos foram afanado no desenvolvimento de sistemas de detecção de radicais livres de oxigênio, seguindo a esteira das teorias que envolvem o estresse oxidativo como base do processo de envelhecimento. Atualmente, esta teoria está muito pouco sustentada por evidências e é considerado apátrida. As observações iniciais mostravam uma acumulação progressiva de moléculas oxidadas com a idade e uma maior produção de espécies reativas de oxigênio (ROS, em inglês), tais como os peróxidos e os íons superóxido, produtos derivados do metabolismo intracelular que se aproxima nas fábricas de energia das mitocôndrias, durante a respiração, e que utilizam como combustível fundamental o oxigênio. No entanto, a produção destes ROS e o envelhecimento não parecem guardar uma relação causal e, portanto, parece pouco útil medir os níveis de moléculas oxidadas ou radicais livres de oxigênio.
As clínicas anti-envelhecimento são algo atraso com relação aos avanços científicos e continuam propondo em seus folhetos se conectar a complexos sistemas de medição do estado redox do nosso organismo, através aparatosas máquinas de aparência sofisticada e mais do que duvidosa base científica. É muito atraente e intuitiva explicar o envelhecimento simplesmente como o resultado de um processo de oxidação, e muito rentável vender produtos antioxidantes e terapias baseadas neste processo, mas não existe evidência científica clara a seu favor. De fato, a evidência disponível aponta para o que é prejudicial para a saúde de uma suplementação antioxidante.
Uma das teorias do envelhecimento mais apoiadas por dados científicos fala-nos do encurtamento telomérico como verdadeiro relógio biológico que determina a idade de nossas células. Os telómeros são estruturas nas extremidades de nossos cromossomos (estrutura que sustenta o genoma), formadas por repetições de segmentos curtos de DNA que se ligam diversas proteínas, e que servem de proteção contra a erosão, que sofrem com cada divisão celular. Há já meio século verificou-se que as células de nosso organismo são capazes de se dividir um número finito de vezes. Mas, como vocês sabem as células quantas vezes foram divididos? A investigação dos detalhes moleculares desse processo revelou que a célula mantém graças a medida do comprimento destes telómeros, uma vez que sua extensão é proporcional ao número de vezes que a célula teve que realizar o processo de replicação, com a consequente perda de seqüência telomérica.
Hoje sabemos que isso mesmo é basicamente verdade também ao nível do organismo total, e existem estudos que tentam medir os telómeros de amostras de sangue de grandes populações de indivíduos de diferentes idades e características, com a idéia de estabelecer um padrão que nos sirva de medida padrão.
Comprimento telomérica média decresce com a idade de uma forma paulatina e constante, e com um certo comprimento crítica define uma fronteira entre o estado saudável e doença. Vários estudos descrevem como um estilo de vida sedentário, a obesidade, o estresse e certos hábitos alimentares se correlacionam com um maior encurtamento telomérico. Isso levou já à criação de empresas de biotecnologia que se propõem medir nossos telómeros como verdadeiro teste de envelhecimento biológico.
A ideia é que, com uma simples coleta de sangue podemos isolar células e medir nelas o comprimento de seus telómeros, para saber se correspondem com a nossa idade cronológica ou se, pelo contrário, mostram indícios de um maior risco de ter um problema de saúde ou de envelhecimento acelerado, mesmo antes de aparecerem os primeiros sinais da doença, para aumentar com isso, o tempo de reação e tentar combater problemas futuros. O desafio agora é definir corretamente quais são os níveis “saudáveis” contra os patológicos, e talvez para isso seja necessário empreender uma mastodóntica coleta de amostras de sangue entre a população com o fim de chegar a estabelecer os limites.
Outro fator recentemente proposto como um melhor indicador do processo de envelhecimento é a proteína supressora de tumores p16INK4a. A perda da expressão desta proteína é um dos defeitos mais comuns durante o desenvolvimento de um tumor. Podemos dizer que a célula tumoral precisa irremediavelmente libertar-se das amarras que supõe um controle férreo da capacidade proliferativa, uma vez que se algo caracteriza e faz letal a um tumor, é a sua capacidade ilimitada de crescimento. As células tumorais são basicamente imortais, foram capazes de escapar do controle da maquinaria de envelhecimento. Algo que, como organismos, aspiramos desde o início dos tempos, o contraditório?
SEGUE O BLOG do Manuel Outeiro, Fonte da eterna juventude
Sua verdadeira idade